terça-feira, 8 de dezembro de 2015

tal qual um gato que aprendeu a ler

01:21 09/12/2015

quantas vezes cruzei a sala, a porta, desci as escadas - pé ante pé - - -
e teus olhos ali. as mãos despretenciosas.  som de portão. as vírgulas bêbadas, e o ronco do carro à porta. quais foram os gritos, os escarros, fluídos meus e seus? eu olhava o céu da madrugada, céu laranja, céu de véspera. daí o convite "olha também" e você diz pra não dizer.
 uma alegoria tão morta quanto o nós. 
pé ante pé 
eu descia as escadas, miava
gemia pouco e devagar
o lixo da porta fedia, 
esgueirávamos, felinos, entre as tralhas,
o tanque, as bicicletas, as sacolas
 eu calçava as botinhas quando chegava no ultimo degrau da escada
chegava antes do sol, as vezes da ultima lua
"todo sol é atroz, toda lua é amarga"
a madrugada é pra quem é só

" é um céu de baunilha, meu bem"

sábado, 17 de outubro de 2015

68, umbral





Penso que osmo deveria ser o nome de uma escarradeira. Uma peça enorme e requintada, esquecida, ou cuidadosamente poupada por alguma velha falida.
“Nome ao recipiente". o pós palavras prosseguiu sonoro. A velha escarra. “osmo”.




sábado, 19 de julho de 2014

Re. tor. no

O ínicio é o algoz da escrita. Não se sabe ecoar o sentimento que leva a caracterizar-se, tentado em pecado é que espera o começo dos passos do falar. Procuro em aformismo, via de regra, trazer-te em mim. Ao passo que anseio libertar o coração que nomeio, que prezo. Rogo a transparência da escrita que te veja, que te entregue, e que o faça por mim. São bonitas palavras, para a necessidade que fez-se carne e flama na alta madrugada do inverno ao verão. Recordo dos teus sons abafados em meu pescoço, e do visgo quente.
Destino cruel que faz som na casa vizinha, evocando canções sujas de história. Assim dói mais, ele pensa. No insano momento em que a dor se faz matéria, meu desejo – único- vê na distância a utopia apática do distanciar. Quem me dera ser quimera, montruosa e enorme, mas esse é o papel de minha vontade. A Legião de urbos, som destoante da rádio. Essas ondas que se propagam ao instante mais profundo do querer que tento, pelas palavras, encerrar. Pensam traduzir, pensam tocar. Mas a bem verdade, é que estrangulam todas as orlas da ilha que construí. Tão veemente, o som se esvai. Resta o silêncio ruidoso, cujo estilhaço se afinca nas garras memoriais. Dói mais assim, ele pensa. E o verbo se fez carne, em piores proporções trouxe o desejo em fincar marcas, e curvas difíceis demais de se atravessar. Fecho a janela, e uma ultima prece sai.

Que voe, tempo. Que faça casca na pele. Que traga asas.
Assim, se espera.

Amém.”

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Acinesia

Intrigo e empertigo os dizeres, pronunciando de soslaio as arrogâncias que acariciam a garganta, do sentido de expor a todos a verossimilhança de minhas percepções. Fugo, fogo e fui a dizer o que penso. Faço melhor, talvez, em ter calado.
Desculpe, senhor, que mais há de se fazer nesse lugar?” - Enfuria? -
Enfastiado?
Dê-me um café.
Aparo o guardanapo, faço-lhe e interrompo a forma que há de ser. Há de houver a priori, sem prioridade. Subjugo as palavras pra dizer-lhes o que bem quis, quero. Não hei de ser viúva delas, tampouco as farei orfãs de mãe, já que se fizeram em mim, sem pai ou origem, desnudadas e envelopadas.
Qual o gosto do vento português, minha breve Ceci?” Perguntei. Ela diz que é azul, que é denso, que consegue tocar o gosto de vento na ponta da língua e nas narinas. Haja prenda que a compre! Haja par que a prenda! Haja prenda que a conquiste!
Haja, mas que aja – acima de tudo.

Que faça sol de manhã, encoberto por nuvens anis, pois o cinza mistura bem com o amarelo solar.
Não quero que faça beleza, poética, acinese! Quero acordar as dez e comer rosquinhas industrializadas, sentir a urgência da rotina, ouvindo um ciborgue alertar que minhas definições foram atualizadas. Mal sabe ela, que de fato foi. Que sem fato, dói.

sábado, 24 de maio de 2014

Bordados


Escrevo no exercício de traduzir os pensares que abarrotam, que se estabelecem, incarte em arguidos mudos, recuso o grito que se afoga no calor. Ser, o caminho leve que se cruza no fim da história. Consonante, as consoantes se vogalizam, encaminhando a voga de um pesar latente. Não quero evocar narrações que circunscrevem cronologicamente, meu interesse se pauta nas coisas de dentro, a quem tento - escolhendo por som, por beleza – chamar ao mundo, encarnar em minha missão de significado. Não se trata de gramática, lógica contribuinte e estrutura. São polimorfismos que se constroem, que evocam ao meio tempo do meu sentir.
São as asas que entrego a obsessão de dar nome ao que se i-nomeia. Verbalizo os imperantes, e os trilho pro meio de minha vontade. Aprendo a colorir os olhos e escolher os aparatos constitutivos de minha historicização. Anseio por construir-me e ser, desconstruidamente, espírito. Quisera e quimera;
acometam-se no baile dos corpos em transe, dos lados do mesmo monstro. Dos silêncios que engasgam, da vida que escorrega,
das delícias

e dos jardins.

quinta-feira, 15 de maio de 2014






Eco
reverberar
sem narciso
perdido ao passo

Padam, Padam”











Cuspir:

voltar-se ao ventre
em contrários modos;
improprérios vicios
sem descuido

in 
descaso